Aquem vós o procurais nãos estar mais aqui. Ele ressuscitou. ALLELUIA.
domingo, 12 de abril de 2009
Páscoa: memória e projeto de Justiça e Libertação.
Texto extraido e puplicado da Sintese Teológica do Seminarista Antonio Araujo Silva - Nova Iguaçu - 2005. Seminário Paulo VI.
"No tempo de Jesus, a páscoa judaica congrega em Jerusalém os fiéis de Moisés para a imolação e a manducação do cordeiro pascal; ela comemora o Êxodo que libertou os hebreus da escravidão egípcia. Hoje a Páscoa cristã reúne em toda parte os discípulos de Cristo na comunhão de seu Senhor, verdadeiro Cordeiro de Deus; ela os associa à sua morte e à sua ressurreição, as quais os livraram do pecado e da morte. De uma festa à outra festa a continuidade é evidente, mas mudou-se de plano passando da antiga à nova Aliança por intermédio da Páscoa de Jesus."
De acordo com o teólogo C. Duquoc, o Crucificado é o Ressuscitado: o sentido da vida pascal de Jesus não se separa de sua palavra e de seu comportamento terreno. Isso dá condição de manifestar sua função libertadora, pois a relação entre fé pascal e a vida de Jesus tem como objetivo dar um conteúdo a essa mesma libertação. A perspectiva de libertação de Jesus não se limita ao material e nem ao corpo, mas atinge a totalidade do ser humano. Essa relação conduz a uma abertura que revela seu poder de libertação na vitória sobre a morte. Na páscoa está presente a luta que Jesus travou por causa da Justiça, expressão do amor e do perdão de Deus que Ele manifestou.
A Cruz e a Ressurreição, conclui o teólogo, nada são em si mesmas se não estiverem unidas à vida terrena de Jesus e à sua Palavra. Assim também a vida terrena de Jesus e sua Palavra só recebem sua plenitude a partir da dialética entre Sexta-feira Santa e Páscoa.
2.3.1 A morte de Jesus como conseqüência da luta por justiça.
Em sua vida pública, Jesus se apresentava como o profeta do Reino de Deus, que anunciava a proximidade de Deus como aquele que vinha restaurar a ordem, pois o sistema vigente era excludente. Jesus não temeu em denunciar tudo o que não estava de comum acordo com a vontade de Deus, convidando a todos à conversão, para que se estabelecesse uma relação com o Reino de Deus.
Por essa razão, assumiu uma atitude desafiadora em face daqueles que promoviam a injustiça e, portanto, dos verdadeiros criadores de uma situação de morte para a maioria do povo.
De acordo com o teólogo Sinivaldo S. Tavares, em seu livro Cruz de Jesus e Sofrimento do Mundo, a morte na cruz aparece como conseqüência do projeto de Jesus, o qual questionava as estruturas socioeconômicas, culturais e religiosas existentes e que criavam leis e normas injustas que por sua vez eram sobrepostas ao povo para que as cumprisse de forma escandalosa e subseqüente por razões do seu status quo. A cruz de Jesus, enfim, denuncia e desmascara qualquer tentativa que se encontra na tradição para querer legitimar as situações existentes. Era comum àqueles que manipulavam as leis e a religião usar de atitudes ideológicas. As interpretações das leis e da palavra de Deus eram feitas fora do seu contexto original e de forma fundamentalista com pretexto para justificação do sofrimento induzido alimentando, assim, o fatalismo e o cinismo. Esse sofrimento iníquo e imposto ao povo é condenado por Deus, por ser fruto da ação do pecado no seio da sociedade humana.
A presença do pecado como força de destruição do projeto de Deus é vencido por Jesus, o profeta e o justo. Ele morre pela justiça e pela verdade, denunciando o mal que fazia acontecer um fechamento do sistema, ao pretender monopolizar a verdade e o bem a seu favor. Esse fechamento individualista é o pecado do mundo; o teólogo Sinivaldo S. Tavares afirma:
O servo é escolhido por Deus com a missão de instaurar o direito e a justiça (Is 49, 8) e por isso se torna vítima dos seus perseguidores. É considerado objeto de desprezo e contado entre os malfeitores (Is 53,3-12). Cristo morreu por causa deste pecado banal e estruturado.
Para o teólogo Renold J. Blank, a morte de Jesus se torna sinal exterior e visível daquilo que a linguagem apocalíptica chamou de o fim do mundo. Conforme o autor;
A destruição catastrófica do mundo acontece na cruz. A morte de Jesus nesse patíbulo da vergonha é para ele ‘o fim do seu mundo’. Um ‘fim do mundo’ mesmo. O fim daquele mundo em que Jesus tinha esperado, de forma plena, a vinda do Reino de Deus. Esta expectativa se quebrou. O Reino não se realizou de maneira definitiva e Jesus morre. O mundo dele está sendo destruído, e esta destruição é um fim catastrófico. É tão catastrófico que o próprio Jesus formaliza, no seu grito, a condição apocalíptica de um mundo em que Deus está ausente. [...] Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?[...] (Mc 15,34).
O mesmo teólogo testifica que no acontecimento da cruz, em seguida com a morte de Jesus, Ele vive um drama existencial de dimensões apocalípticas. Paulo aos romanos, afirma que Jesus vive as dores do parto (Rm 8, 22), o que leva a gerar um mundo novo, em que há uma luta apocalíptica entre vida e morte. Com tudo isso, dentro dessa visão escatológica de que o mundo de Jesus é destruído, e como também há destruição do mundo antigo, ocorre neste sentido o grande juízo apocalíptico em que na pessoa de Jesus todo mundo antigo é julgado. A partir desse acontecimento também ressurge em Jesus a realização de um mundo novo no qual Deus está presente.
Segundo Blank, [...] o mundo real é marcado pela simultaneidade de estruturas opostas e contraditórias. O teólogo percebe, a partir da compreensão desse mundo e de sua história, que as imagens mitológicas da morte súbita do mundo deve passar por uma re-interpretação tendo em vista as concepções escatológicas de Jesus. Quando o autor analisa tais concepções, não percebe a existência da presença da visão cósmica de Jesus dentro dos sucessivos enfoques míticos. O mundo visto por Jesus é bem diferente: [...] junto ao trigo cresce o joio [...] (Mt 13, 24-30), [...] no meio do anti-Reino se faz presente o Reino de Deus [...] (Lc 17, 20-21). [...] na massa é colocado o fermento para crescer [...] (Lc 13,20-21). O que marca a concepção de Jesus é a consciência de simultaneidade e de processo de transformação.
O ser humano de hoje espera que no futuro todos os seus anseios sejam realizados. O teólogo a definiria como plenificação, incluindo também o cosmo na sua íntegra. Mediante esta concepção escatológica, Blank fundamenta o discurso escatológico como algo que deve manter viva a esperança nesta plenificação, porque é nela que se revela para o ser humano, de maneira total e absoluta, a bondade profunda de um Deus que ama a sua criação.
Um outro ponto importante que devemos observar diante desse evento crístico é o sentido que se dava ao sacrifício, neste caso veremos o sentido sacrifical da morte de Jesus. O culto sacrifical do Antigo Testamento simboliza o retorno a Deus de uma humanidade cuja condição é estar separada d´Ele. O objetivo do sacrifício é o de partilhar da mesma vida desse Deus a quem se oferece o sacrifício. O ser humano se encontra em situação de angústia por não se harmonizar com a intenção criadora de Deus. Neste sentido o sacrifício só pode ser entendido a partir de uma situação de pecado. No caso de Jesus, diz o teólogo C. Duquoc, que o Cristo oferece o seu próprio corpo em sacrifício, aceita voluntariamente a condição carnal cujo termo é a morte. Ele assume a condição de privação da glória de Deus. O autor cita Paulo para fundamentar essa realidade; o Cristo se fez pecador por causa do homem. Por sua morte, Jesus subtrai à esfera do carnal; faz de sua morte o sinal de seu próprio dom e retorno a Deus, como testemunho de sua liberdade e amor pelos homens.
O projeto de Jesus e sua imagem histórica permanecem indelevelmente marcados por sua conclusão trágica na cruz. A cruz representa um fracasso das expectativas suscitadas pelo anuncio do Reino de Deus, com isso surgiram então muitas perguntas duvidando da ação salvífica de Deus. De modo particular entre os neoconvertidos. Seria merecedora de crédito a promessa da realeza libertadora de Deus feita por alguém que acabou miseravelmente na cruz?
Para superar esta contradição, os primeiros cristãos tentaram dar uma interpretação religiosa positiva à morte de Jesus na cruz. Jesus foi entregue à cruz pelos homens, mas Deus o ressuscitou e o glorificou.
Segundo o biblista Rinaldo Fabris:
A morte escandalosa de Jesus podia ser incluída numa visão religiosa, sempre que se pudesse inserir no plano de Deus, revelado nas Escrituras. Alguns textos bíblicos do padecimento do “Justo” eram relidos como profecias da paixão e morte de Jesus.
Diante desta reflexão, a tradição cristã, para reformar o caráter sacrifical da morte de Jesus, põe em evidencia a iniciativa de Deus que “entregou” o próprio Filho em sinal de amor, perdão e reconciliação para os homens. Assim, a morte de Jesus deixa de ser um espetáculo de infâmia e torna-se a hora da glória; a passagem de Jesus deste mundo para o Pai, a suprema revelação do seu amor redentor.
O mesmo biblista, afirma que a morte de Jesus é o castigo e a satisfação devidos pelos pecados da humanidade e que com sua morte dolorosa:
[...] Jesus tornou-se vítima substitutiva ou vicária dos homens pecadores, expiando-lhes a culpa de uma vez por todas; por isso a sua morte é o sacrifício perfeito e definitivo que ab-roga o da antiga aliança. Com a morte de Cruz, Jesus mereceu para os homens não só o perdão de Deus, mas também a vida.
A mesma idéia é também sublinhada por Leonardo Boff, ao afirmar que a redenção que nos foi dada por Jesus consistiria não em primeiro lugar no sofrimento ou mesmo na morte, mas na sua atitude de amor quando se entregou ao sofrimento e morte e que se exprimiu quer na auto-entrega confiante ao Pai quer na oferta do perdão aos seus acusadores e de solidariedade com todos os homens pecadores. Continua o teólogo, o que é redentor em Jesus não é propriamente nem a cruz, nem o sangue, nem a morte, tomados em si mesmos, mas é a sua atitude de amor, de entrega e de perdão.
Portanto, a morte de Jesus é verdadeiro sacrifício, porque ele fez de sua vida uma autêntica existência sacrifical. Neste sentido, a morte de Jesus, de acordo com L. Boff, não constitui outra coisa senão a confirmação da orientação fundamental por ele mesmo dada à vida como: pró-existência e serviço (cf. Lc 22,27) e amor até o fim (Cf. Jo 13,1).
"No tempo de Jesus, a páscoa judaica congrega em Jerusalém os fiéis de Moisés para a imolação e a manducação do cordeiro pascal; ela comemora o Êxodo que libertou os hebreus da escravidão egípcia. Hoje a Páscoa cristã reúne em toda parte os discípulos de Cristo na comunhão de seu Senhor, verdadeiro Cordeiro de Deus; ela os associa à sua morte e à sua ressurreição, as quais os livraram do pecado e da morte. De uma festa à outra festa a continuidade é evidente, mas mudou-se de plano passando da antiga à nova Aliança por intermédio da Páscoa de Jesus."
De acordo com o teólogo C. Duquoc, o Crucificado é o Ressuscitado: o sentido da vida pascal de Jesus não se separa de sua palavra e de seu comportamento terreno. Isso dá condição de manifestar sua função libertadora, pois a relação entre fé pascal e a vida de Jesus tem como objetivo dar um conteúdo a essa mesma libertação. A perspectiva de libertação de Jesus não se limita ao material e nem ao corpo, mas atinge a totalidade do ser humano. Essa relação conduz a uma abertura que revela seu poder de libertação na vitória sobre a morte. Na páscoa está presente a luta que Jesus travou por causa da Justiça, expressão do amor e do perdão de Deus que Ele manifestou.
A Cruz e a Ressurreição, conclui o teólogo, nada são em si mesmas se não estiverem unidas à vida terrena de Jesus e à sua Palavra. Assim também a vida terrena de Jesus e sua Palavra só recebem sua plenitude a partir da dialética entre Sexta-feira Santa e Páscoa.
2.3.1 A morte de Jesus como conseqüência da luta por justiça.
Em sua vida pública, Jesus se apresentava como o profeta do Reino de Deus, que anunciava a proximidade de Deus como aquele que vinha restaurar a ordem, pois o sistema vigente era excludente. Jesus não temeu em denunciar tudo o que não estava de comum acordo com a vontade de Deus, convidando a todos à conversão, para que se estabelecesse uma relação com o Reino de Deus.
Por essa razão, assumiu uma atitude desafiadora em face daqueles que promoviam a injustiça e, portanto, dos verdadeiros criadores de uma situação de morte para a maioria do povo.
De acordo com o teólogo Sinivaldo S. Tavares, em seu livro Cruz de Jesus e Sofrimento do Mundo, a morte na cruz aparece como conseqüência do projeto de Jesus, o qual questionava as estruturas socioeconômicas, culturais e religiosas existentes e que criavam leis e normas injustas que por sua vez eram sobrepostas ao povo para que as cumprisse de forma escandalosa e subseqüente por razões do seu status quo. A cruz de Jesus, enfim, denuncia e desmascara qualquer tentativa que se encontra na tradição para querer legitimar as situações existentes. Era comum àqueles que manipulavam as leis e a religião usar de atitudes ideológicas. As interpretações das leis e da palavra de Deus eram feitas fora do seu contexto original e de forma fundamentalista com pretexto para justificação do sofrimento induzido alimentando, assim, o fatalismo e o cinismo. Esse sofrimento iníquo e imposto ao povo é condenado por Deus, por ser fruto da ação do pecado no seio da sociedade humana.
A presença do pecado como força de destruição do projeto de Deus é vencido por Jesus, o profeta e o justo. Ele morre pela justiça e pela verdade, denunciando o mal que fazia acontecer um fechamento do sistema, ao pretender monopolizar a verdade e o bem a seu favor. Esse fechamento individualista é o pecado do mundo; o teólogo Sinivaldo S. Tavares afirma:
O servo é escolhido por Deus com a missão de instaurar o direito e a justiça (Is 49, 8) e por isso se torna vítima dos seus perseguidores. É considerado objeto de desprezo e contado entre os malfeitores (Is 53,3-12). Cristo morreu por causa deste pecado banal e estruturado.
Para o teólogo Renold J. Blank, a morte de Jesus se torna sinal exterior e visível daquilo que a linguagem apocalíptica chamou de o fim do mundo. Conforme o autor;
A destruição catastrófica do mundo acontece na cruz. A morte de Jesus nesse patíbulo da vergonha é para ele ‘o fim do seu mundo’. Um ‘fim do mundo’ mesmo. O fim daquele mundo em que Jesus tinha esperado, de forma plena, a vinda do Reino de Deus. Esta expectativa se quebrou. O Reino não se realizou de maneira definitiva e Jesus morre. O mundo dele está sendo destruído, e esta destruição é um fim catastrófico. É tão catastrófico que o próprio Jesus formaliza, no seu grito, a condição apocalíptica de um mundo em que Deus está ausente. [...] Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?[...] (Mc 15,34).
O mesmo teólogo testifica que no acontecimento da cruz, em seguida com a morte de Jesus, Ele vive um drama existencial de dimensões apocalípticas. Paulo aos romanos, afirma que Jesus vive as dores do parto (Rm 8, 22), o que leva a gerar um mundo novo, em que há uma luta apocalíptica entre vida e morte. Com tudo isso, dentro dessa visão escatológica de que o mundo de Jesus é destruído, e como também há destruição do mundo antigo, ocorre neste sentido o grande juízo apocalíptico em que na pessoa de Jesus todo mundo antigo é julgado. A partir desse acontecimento também ressurge em Jesus a realização de um mundo novo no qual Deus está presente.
Segundo Blank, [...] o mundo real é marcado pela simultaneidade de estruturas opostas e contraditórias. O teólogo percebe, a partir da compreensão desse mundo e de sua história, que as imagens mitológicas da morte súbita do mundo deve passar por uma re-interpretação tendo em vista as concepções escatológicas de Jesus. Quando o autor analisa tais concepções, não percebe a existência da presença da visão cósmica de Jesus dentro dos sucessivos enfoques míticos. O mundo visto por Jesus é bem diferente: [...] junto ao trigo cresce o joio [...] (Mt 13, 24-30), [...] no meio do anti-Reino se faz presente o Reino de Deus [...] (Lc 17, 20-21). [...] na massa é colocado o fermento para crescer [...] (Lc 13,20-21). O que marca a concepção de Jesus é a consciência de simultaneidade e de processo de transformação.
O ser humano de hoje espera que no futuro todos os seus anseios sejam realizados. O teólogo a definiria como plenificação, incluindo também o cosmo na sua íntegra. Mediante esta concepção escatológica, Blank fundamenta o discurso escatológico como algo que deve manter viva a esperança nesta plenificação, porque é nela que se revela para o ser humano, de maneira total e absoluta, a bondade profunda de um Deus que ama a sua criação.
Um outro ponto importante que devemos observar diante desse evento crístico é o sentido que se dava ao sacrifício, neste caso veremos o sentido sacrifical da morte de Jesus. O culto sacrifical do Antigo Testamento simboliza o retorno a Deus de uma humanidade cuja condição é estar separada d´Ele. O objetivo do sacrifício é o de partilhar da mesma vida desse Deus a quem se oferece o sacrifício. O ser humano se encontra em situação de angústia por não se harmonizar com a intenção criadora de Deus. Neste sentido o sacrifício só pode ser entendido a partir de uma situação de pecado. No caso de Jesus, diz o teólogo C. Duquoc, que o Cristo oferece o seu próprio corpo em sacrifício, aceita voluntariamente a condição carnal cujo termo é a morte. Ele assume a condição de privação da glória de Deus. O autor cita Paulo para fundamentar essa realidade; o Cristo se fez pecador por causa do homem. Por sua morte, Jesus subtrai à esfera do carnal; faz de sua morte o sinal de seu próprio dom e retorno a Deus, como testemunho de sua liberdade e amor pelos homens.
O projeto de Jesus e sua imagem histórica permanecem indelevelmente marcados por sua conclusão trágica na cruz. A cruz representa um fracasso das expectativas suscitadas pelo anuncio do Reino de Deus, com isso surgiram então muitas perguntas duvidando da ação salvífica de Deus. De modo particular entre os neoconvertidos. Seria merecedora de crédito a promessa da realeza libertadora de Deus feita por alguém que acabou miseravelmente na cruz?
Para superar esta contradição, os primeiros cristãos tentaram dar uma interpretação religiosa positiva à morte de Jesus na cruz. Jesus foi entregue à cruz pelos homens, mas Deus o ressuscitou e o glorificou.
Segundo o biblista Rinaldo Fabris:
A morte escandalosa de Jesus podia ser incluída numa visão religiosa, sempre que se pudesse inserir no plano de Deus, revelado nas Escrituras. Alguns textos bíblicos do padecimento do “Justo” eram relidos como profecias da paixão e morte de Jesus.
Diante desta reflexão, a tradição cristã, para reformar o caráter sacrifical da morte de Jesus, põe em evidencia a iniciativa de Deus que “entregou” o próprio Filho em sinal de amor, perdão e reconciliação para os homens. Assim, a morte de Jesus deixa de ser um espetáculo de infâmia e torna-se a hora da glória; a passagem de Jesus deste mundo para o Pai, a suprema revelação do seu amor redentor.
O mesmo biblista, afirma que a morte de Jesus é o castigo e a satisfação devidos pelos pecados da humanidade e que com sua morte dolorosa:
[...] Jesus tornou-se vítima substitutiva ou vicária dos homens pecadores, expiando-lhes a culpa de uma vez por todas; por isso a sua morte é o sacrifício perfeito e definitivo que ab-roga o da antiga aliança. Com a morte de Cruz, Jesus mereceu para os homens não só o perdão de Deus, mas também a vida.
A mesma idéia é também sublinhada por Leonardo Boff, ao afirmar que a redenção que nos foi dada por Jesus consistiria não em primeiro lugar no sofrimento ou mesmo na morte, mas na sua atitude de amor quando se entregou ao sofrimento e morte e que se exprimiu quer na auto-entrega confiante ao Pai quer na oferta do perdão aos seus acusadores e de solidariedade com todos os homens pecadores. Continua o teólogo, o que é redentor em Jesus não é propriamente nem a cruz, nem o sangue, nem a morte, tomados em si mesmos, mas é a sua atitude de amor, de entrega e de perdão.
Portanto, a morte de Jesus é verdadeiro sacrifício, porque ele fez de sua vida uma autêntica existência sacrifical. Neste sentido, a morte de Jesus, de acordo com L. Boff, não constitui outra coisa senão a confirmação da orientação fundamental por ele mesmo dada à vida como: pró-existência e serviço (cf. Lc 22,27) e amor até o fim (Cf. Jo 13,1).
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